Moçambicana de nascimento, portuguesa na cultura, germanista por vocação. Intensa nos três amores supremos. Constante nas paixões grandiosas: as planuras de África e do Alentejo; as vozes de Eça e Thomas Mann; os timbres de Chopin e Wagner; as cores de Derain e Kirchner; o ancestral rumor das capulanas e dos saris; os risos das palmeiras e das estrelas. Igual a tantos: o primeiro poema escrito aos dez anos e ocultado, como os seguintes, em gaveta de silêncio.
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Atrás de ti,
o sol
rasga a madrugada,
pincelando
de fogo
o azul estremunhado
e pousando
golfadas de luz
no orvalho da rua.

Dos meus passos
escorre
incontida névoa,
que,
entre nós,
se dilata,
se espessa,
se petrifica.

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Tropeça-me
a dor
em escombros
de nenúfares.

Escorregam-me
agonias
por estilhaços
de japoneiras.

E teus passos de sol,
tão em fúlgidos desvelos,
a resplandecerem sopros
de infinitas carícias,
são-me
lustres virginais
de redentoras madrugadas.

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Não sei
que matizes
te sustentam o olhar.

Não sei
que timbres
navegam na tua voz.

Recolho
sorrisos de estrelas
que dependuras
nas fragas da noite.

E guardo
abraços de sol
que ateias
nos grilhões da madrugada.

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Sem mochila.
            Sem bússola.
                       Sem estrada.

                                                                      Sem ti.

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Espessa
a tua ausência,
a penumbrar-me
as colinas da alma.
Só memória de abraço
lhe embute
asa de luz.