Sou a Cláudia e resido em Tavira. Considero-me uma alma bastante curiosa, que questiona sobre tudo, sobre o Mundo, sobre as pessoas. A existência não me é fácil. Acredito no poder catártico das Artes, que me permitem encontrar a tranquilidade de uma mente tão agitada. A Literatura, em particular, é inefável; deixo-me sorver pelo sonho e navego em dimensões etéreas. Admiro os clássicos, como também me apraz a Filosofia.
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HOJE

Hoje
o céu não brilha
não como no dia
em que te vi

nesse dia
o sol gargalhava
prometia tempos
de agrado

a fruta era doce
o sal salgava
a vida
pedia mais abraços

o sol conversava
com a lua
que investia na noite
cheias incandescências

hoje
lembro-me de ti
do transe da vida
e do sol

 

PAPEL

Ocorre-me nunca mais te falar, pegar no papel
e escrever com tanta força até rasgar a fibra
as juntas de átomos agarradas para sempre
deixo-me de reminiscências, escolho a minha angústia,
sinto-me arrepiada por um desejo de me fazer obedecer
os tons escurecidos pela luz que me cumprimenta
nem reparo em gestos incompreendidos
pela tempestuosa consciência onde sonho
averiguo a mão, trémula, por cumprir o nada
por ser egoísta em expressões coléricas
beliscadas por vontades acumuladas
movimento palavras que fervilham os meus dedos
que transpiram o meu suor abafado
que entranham o meu silêncio ruidoso
suspiro letras pálidas do siso de alguém
em metamorfose dos instantes da vida
como pego nesta folha e faço dela uma bola
nem consigo escrever a mentira, as ganas
de olhar para ti e saber como me esperas com Hades
e esfregas as mãos congeladas pela alma
de alguém enfurecido pelas juntas do papel rasgado

 

DESTINO

pergunto-me do que é feito
da eficácia do destino
que tanto promete deixas
deixa comigo
deixa que cuido de ti
deixa
assegura-te que me deixas
agir no teu troço
torcer-te a alma
para te fazer romper
a lágrima
tomada de assalto
que ali vive
adivinha de um qualquer
fado descanto
um fado que atormenta
as espreitadelas
da lua

 

PAIXÃO

paixão não é amor
é infortúnio
para dizer sentidos sentimentos
que mentem e apertam o desperto
que está perto
encoberto de fingidas loucuras

é louco o apaixonado
que se engana pela emoção
não se lhe chama a razão
do sensível
deambula nos nenúfares
sobre o rio da ilusão

tropeça nos pedidos de desculpa
é vexado pelo cupido
ou quem quer que seja
que prepara a carência
de um pobre mergulhado
em devaneios

 

O TEU POEMA

Não existe poema mais bonito
do que a simplicidade de olhar para ti
dos detalhes da tua face
das rugas da tua pele
escreve lindos contos de alegria
de gargalhadas envergonhadas
pululadas em palavras
que apagam o meu infeliz
afastamento, de ti não notas

pareces-me mais frágil
do que a dita essência
o poder de me fazer sentir
em terceiras dimensões
pois não sei quantas existem
acredito que existam infinitas
como a quantidade de poemas
bonitos, cheios de palavras,
mas sem aquelas que me fazem
lembrar da poesia do teu retrato

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